quinta-feira, 19 de abril de 2012

Entre a lei e o verso: Ministro Ayres Britto toma posse como presidente do STF

"Não sou como camaleão que busca lençóis em plena luz do dia. Sou como pirilampo que, na mais densa noite, se anuncia". Ayres Britto.
Assim começou a posse do ministro Ayres Britto, que a partir desta quinta (19), é o novo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele deve ficar no cargo até o mês de novembro, quando completa 70 anos e se aposenta compulsoriamente. Após a abertura com a frase do poeta Ayres, a cantora Daniela Mercury, escolhida pessoalmente pelo ministro, cantou o Hino Nacional abrindo a solenidade de posse.
Nascido em Propriá, na região do Baixo São Francisco em Sergipe, Carlos Augusto Ayres de Freitas Britto, terá um mandato de apenas sete meses e é o 43º presidente do STF na história da República, 54º desde o Império e o primeiro sergipano a comandar a corte.
Presentes à solenidade, a presidente da República, Dilma Rousseff, a presidente interina do Senado, Marta Suplicy, o presidente da Câmara, Marco Maia, os ministros do STF e dos outros quatro tribunais superiores, e diversas autoridades dos três poderes da República foram convidados pela cantora a quebrar o protocolo: “Cantamos juntos?”, convidou Mercury.
O decano do STF, ministro Celso de Mello, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Ophir Cavalcante Junior, também discursaram, exaltando as qualidades de Britto e das instituições que dirigem. Também tomou posse como vice presidente o ministro Joaquim Barbosa.
Missão – Ayres Britto deverá ter apenas sete meses de mandato, porém tem à sua frente a missão de julgar temas muito importantes à pauta do tribunal, como a questão das terras quilombolas, a constitucionalidade das cotas raciais em universidades públicas, se os bancos ou a União pagará a conta pela defasagem das correções monetárias das poupanças nas décadas de 80 e 90, por consequência dos planos econômicos, sem falar na questão de terras entre índios e fazendeiros no Sul da Bahia e o famigerado Mensalão.
Vale lembrar que em sua quase uma década como ministro do STF, Britto foi relator de ações que geraram intensa repercussão junto à opinião pública, as mais recentes, a que legalizou a pesquisa científica com células-tronco no Brasil e a que a envolvia a demarcação da área indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, a ação que tratou do reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo e a suspensão da proibição a piadas com candidatos políticos no período eleitoral, cunhando o entendimento de uma “imprensa plenamente livre tem o humor como forma de exercê-la, sobretudo no plano crítico”.
Vale lembrar ainda que foi Britto que relatou a primeira condenação criminal de um parlamentar pelo STF, em maio de 2010, condenando o deputado federal José Gerardo Arruda (PMDB-CE) a dois anos e dois meses de prisão, por desvio de finalidade de recursos federais.
Entre a lei e o verso - Membro da Academia Brasileira de Letras Jurídicas e da Academia Sergipana de Letras, o magistrado poeta, famoso pela facilidade que tem de brincar com as palavras, discursou entre a lei e o verso, no que chamou de “uma revista da Constituição Federal”, que foi distribuída em versão revista e atualizada ao fim da cerimônia.
“A silhueta da verdade só assenta em vestidos transparentes”, disse ao falar sobre o papel do judiciário e as características dos magistrados: competência, equilíbrio emocional, isenção, abertura para o mundo, sensibilidade. Para ele, “o judiciário rima erário com sacrário”. Disse ainda que “juiz não é traça de processo, não é ácaro de gabinete, e por isso, sem fugir das provas dos autos nem se tornar refém da opinião pública, tem de levar os pertinentes dispositivos jurídicos ao cumprimento de sua mediata ou macro-função de conciliar o Direito com a vida”.
Mudança – Em seu discurso, Britto lembrou o filósofo Heráclito que disse que “a única coisa constante na vida é a mudança”. E esta aliás, deve ser a principal marca desta mudança de comando, que deverá significar mudança de gestão. As divergências ideológicas entre ele e o presidente anterior Cézar Peluso são perceptíveis. Uma delas é o fato de Ayres ser um entusiasta do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e deve dar mais espaço à atuação corregedora Eliana Calmon.
Apesar de não ter apresentado plano com metas e estratégias, Britto anunciou que quer priorizar o diálogo entre os juízes e representantes do governo e demais entidades. Ao contrário do antecessor, Britto possivelmente terá um relacionamento mais próximo com a imprensa e com entidades de representação classista e social, como a OAB e o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, que tem no ministro um de seus principais expoentes. Ao iniciar seu discurso de posse, o ministro disse: “Mais que impor respeito, o Judiciário tem que se impor ao respeito”, disse. Desejamos ao novo presidente uma brilhante atuação, à altura dele mesmo.

Escrito por Daniela Novais 19:35:00 19/04/2012

Crédito : STF

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