Não
são apenas laços eleitorais que unem PT e PSB. Temos uma aliança
ideológica de esquerda, um projeto em comum para o país e relações
políticas que remontam à primeira disputa presidencial de Lula, em 1989,
quando o PSB indicou José Paulo Bisol para vice na chapa.
Como dizia Leonel Brizola, essa é uma história que vem de longe.
Nas últimas semanas, porém, tem crescido um movimento que aponta o PSB
como principal adversário do PT nas eleições de 2012 e 2014.
Sinceramente, não sei onde os que patrocinam essa tática, do nosso
campo, querem chegar. Que aumente a disputa entre os partidos da base,
agora que a oposição está em profunda decadência, me parece
perfeitamente aceitável. Mas será que esses partidos, principalmente os
de esquerda, como o PSB, querem mesmo se enrolar no xale da louca,
unindo-se à direita no abraço dos afogados?
Em Pernambuco, por exemplo, qual a vantagem de desfazer uma aliança
exitosa para se diluir em torno do que não tem nem projeto nem voto?
Nenhuma, na minha opinião. Se alguém duvida, é só ver o desempenho de
PSDB, DEM e PPS no Estado nas últimas três eleições.
Os socialistas pernambucanos não podem esquecer que o apoio e o
compromisso do PT foram decisivos tanto na eleição quanto na reeleição
do governador Eduardo Campos (em 2006 e 2010). Ainda que Eduardo seja
uma grande liderança política, à altura do avô Miguel Arraes, tenho
dúvidas se o PSB, sozinho, chegaria a algum lugar.
É certo que em 2006 lançamos Humberto Costa no primeiro turno. Mas essa
divisão inicial se deu em sintonia com o projeto nacional, num jogo
aberto e combinado desde o início, em que os dois candidatos, de forma
inédita, dividiram o mesmo palanque ao lado do presidente Lula, então
concorrendo à reeleição.
O que se vê agora na sucessão do prefeito João da Costa, em Recife, com o
PSB emitindo sinais de que pretende ir para a disputa contra nós no
primeiro turno, é bem diferente. Primeiro, porque não faz sentido do
ponto de vista da aliança político-administrativa que consolidamos na
cidade e no Estado, com bons resultados para os partidos e para a
população. Segundo, porque, como tenho dito, é preciso respeitar a
prerrogativa política e o direito constitucional de João da Costa
concorrer à reeleição.
Infelizmente, porém, a vaidade e os projetos pessoais tem dado corda a
um movimento que tenta desconstruir a administração do prefeito – com um
lamentável fogo amigo fornecendo munição à artilharia inimiga. Quando
digo “fogo amigo” estou me referindo a importantes lideranças do PT e do
PSB, muitos agindo na penumbra. Mas quem conhece bem a política sabe
identificar as sombras, mesmo não aparecendo as faces.
A disputa interna entre nós, petistas, existe e será resolvida
democraticamente, como sempre acontece no PT. Mas é equivocado o
argumento daqueles que usam esse desentendimento momentâneo para
justificar o fim da Frente. Se fosse assim, ninguém seria aliado de
ninguém, porque todos os partidos tem suas disputas, e o PSB com certeza
não é exceção.
Da mesma maneira, todo partido tem o direito de construir seu legado e
de fazer suas opções eleitorais. Mas é preciso ter em mente que, entre
direitos e deveres, se as coisas não forem coletivamente acordadas,
corre-se o risco do fracasso, não só dos projetos administrativos,
políticos e ideológicos, mas também das próprias legendas.
Pode ser que, num determinado momento, não seja mais possível manter a
aliança PT/PSB. Mas estou convicto de que isso ainda está longe de
acontecer. Essa ainda é uma aliança possível e necessária, tanto para as
forças de esquerda quanto para o Estado e o país – inclusive no que se
refere ao governo da presidenta Dilma e à sua reeleição.
Portanto, as cabeças pensantes não podem, em nome de interesses menores,
simplesmente jogar esse acúmulo nas águas da praia de Boa Viagem. Ao
contrário, deveriam usar seu capital político para distensionar o
processo.
Enquanto isso, no Ceará...
Estou falando de Pernambuco, mas poderia também citar o caso do Ceará,
onde a proximidade das eleições municipais ameaça provocar turbulências
na aliança que temos com os Ferreira Gomes, dos irmãos Cid e Ciro (ambos
PSB), desde 2004.
Tal como em Pernambuco, no Ceará participamos do governado estadual,
comandado por Cid Gomes, e o PSB participa da prefeitura petista de
Fortaleza, comandada por Luizianne Lins. E não há razões políticas
suficientemente fortes para um rompimento em 2012. No entanto...
No entanto, a cena se repete. Nesse caso, o porta-voz da discórdia está
claramente identificado na figura do ex-ministro (e também
ex-governador) Ciro Gomes, meu amigo político de longa data, e a quem
admiro pela personalidade e pela firmeza.
Recentemente, Ciro voltou a soltar suas baterias contra o PT em
entrevistas a dois veículos de comunicação. Nelas, entre outros temas,
aventou o fim da aliança PT-PSB, tanto no nível regional quanto no
nacional. De um lado, ele acusa o PT de praticar o hegemonismo na
relação com os aliados. De outro, de ter se entregue em demasia ao jogo
do aliancismo fisiológico. Habilmente, chega a dizer que se sente um
“petista frustrado”.
A avaliação de Ciro do quadro geral da política tem muitos méritos,
entre eles o de tocar em problemas concretos da nossa democracia ainda
em construção. E que merecem, mais uma vez, uma profunda reflexão sobre a
necessidade de uma reforma política que fortaleça os partidos e os
projetos coletivos – e que limite as disputas eleitorais a legendas
claramente identificadas no espectro ideológico, ou seja, pela
configuração atual, a seis ou sete agremiações.
Sem isso, Ciro não tem o direito de sentir-se “frustrado” com o PT. Ele
sabe que, no contexto do sistema político nacional, a esquerda sozinha,
infelizmente, não tem força para fazer as mínimas reformas de que o país
precisa. Tanto sabe que, quando candidato a presidente da República em
2002, buscou alianças com partidos e líderes regionais que tinham total
identificação com a velha direita da política tradicional, entre eles o
então senador Antonio Carlos Magalhães e família Sarney. Isso depois de
dizer, em 1999, que ACM era "sujo que só pau de galinheiro".
Talvez a frustração de Ciro seja de outro nível e esteja mais ligada ao PSB do que ao PT, mas isso não vem ao caso.
A acusação de hegemonismo também não procede e Ciro também sabe disso.
Se não sabe, sugiro que olhe para o Piauí (que fica ao lado do Ceará),
onde o PT, depois de oito anos no governo do Estado, apoiou a
candidatura de Wilson Martins, do PSB, para a sucessão do petista
Wellington Dias – e sem reivindicar absolutamente nada em troca.
Não nasci ontem. Para além de falsas frustrações e pretensos
desentendimentos, algumas lideranças do PSB estão claramente montando
uma jogada cujo objetivo é enfraquecer o PT nos Estados em que os
socialistas são governo – colocando o peso das máquinas estaduais para
tirar proveito das disputas municipais.
É legítimo? É. Mas não é a melhor política. Sobretudo porque, juntos,
ainda temos muito que fazer por Pernambuco, pelo Ceará e pelo Brasil