17/4/2012 12:32, Por Redação, com agências internacionais - de Madri
Rei de Espanha, Juan Carlos
I (à direita), posa com sua espingarda de grosso calibre, usada para
matar o elefante que exibe como troféu e poderá lhe custar a coroa
Desde que as redes sociais passaram a publicar a foto do rei
Juan Carlos I, nesta segunda-feira, o tom das críticas tem aumentado
por todo o mundo e o monarca de um país que se debate em meio à pobreza
causada pela crise mundial do capitalismo é ameaçado de perder a coroa.
Trata-se da pior crise enfrentada pela casa de Juan Carlos Alfonso
Víctor María de Borbón y Borbón-Dos Sicilias desde o fim do franquismo,
período de chumbo da história espanhola. Representante de uma elite cada
vez mais questionada pela sociedade civil, o rei de Espanha
colocou a realeza em risco no momento em que posou ao lado de um
elefante que acabara de matar em Botswana, durante um safári pago pelo
Erário.
Durante a caçada, o monarca, de 74
anos, teve que ser levado com emergência e submetido, neste final de
semana, a uma cirurgia no quadril, em consequência de uma queda, e se
recuperava num hospital de Madrid. O interesse por seu estado de saúde
foi ofuscado pelas críticas, após informações de caçava elefantes.
– Tinha licença para caçar
elefantes. Entendo que sofreu a queda quando já estava num chalé, não no
terreno – disse a jornalistas o porta-voz do governo, Jeff Ramsay.
Uma foto de Juan Carlos de 2006,
posando, com a escopeta na mão, diante de um elefante morto nesse país
de África e publicada em vários jornais espanhóis no domingo contribuiu
para alimentar o escândalo. A atriz francesa, conhecida por seu trabalho
de defesa dos animais, Brigitte Bardot, escreveu uma carta aberta ao
rei fustigando a caça de elefantes.
“É um ato indecente, repugnante e
fico indignada por ser com uma pessoa de sua posição”, afirmou. “O
senhor não vale mais do que os caçadores ilegais que pilham e saqueiam a
natureza, é a vergonha da Espanha”, acrescentou. “Não desejo ao senhor
um pronto restabelecimento, porque isso o levaria a prosseguir com as
suas estadas mortíferas em África ou em outro local”, inflamou-se.
A organização espanhola Pacma
considerou “inaceitável que Juan Carlos vá à África caçar elefantes
enquanto o governo impõe duras medidas de austeridade e faz cortes no
orçamento que tornam a vida dos cidadãos cada vez mais difícil”. A
aventura representa uma despesa “de sete a 20 mil euros para cada animal
abatido”, acrescentando que “o custo médio de um safári é de 35 mil
euros”. O fórum social europeu Atuable divulgou na internet um
abaixo-assinado, de mais de 40 mil pessoas, pedindo que o rei deixe
imediatamente o posto de presidente de honra da filial espanhola da ONG
World Wildlife Fund (WWF).
A WWF anunciou, por sua vez, no
twitter, que “fará chegar à Casa Real os comentários, além de reiterar o
seu compromisso com a proteção dos elefantes”. Alguns chegaram até a
evocar a possibilidade de demissão, e talvez abdicação, de um rei que
vinha sendo até aqui quase intocável, encarnando a transição democrática
após o fim da ditadura do general Franco, em 1975. Tomás Gómez, líder
dos socialistas madrilenos, somou-se às críticas emitidas por grupos
políticos de esquerda na reprovação feita pela imprensa espanhola.
– Chegou o momento de a Casa Real
escolher entre as obrigações e as sujeições das responsabilidades
públicas e a abdicação, que lhe permita desfrutar de uma vida diferente.
Esse comportamento não é o que nós, espanhóis, esperávamos da Casa Real
em momentos de crise. É pouco edificante – afirmou.
Outras duas ONGs de defesa dos
animais, ‘Igualdad Animal y Equanimal’, pediram, num comunicado,
manifestações hoje (terça-feira) diante do hospital San José de Madrid,
onde o rei convalesce. A família real espanhola vem sendo objeto de
críticas e escândalos há alguns meses, marcados por um suposto caso de
corrupção que envolve um dos genros do rei, o duque de Palma e
ex-campeão olímpico de handebol Iñaki Urdangarín.
Saúde abalada
A cirurgia de sábado foi a quarta
submetida pelo rei, em dois anos. O médico, Angel Villamor, afirmou que
poderá receber alta nesta semana, uma vez que “já consegue caminhar e
sentar-se sozinho”.
Em 2009, um tribunal decidiu
arquivar as acusações contra os autores de uma caricatura que
representava Juan Carlos numa caçada na Rússia, onde teria matado um
urso de circo, depois de beber vodka.
Mais cedo, uma colheita de
assinaturas foi iniciada no site Actuable. A petição é pela renúncia de
Juan Carlos I a seu cargo na organização ambiental – que ocupa desde que
ela foi fundada na Espanha, em 1968. Até o início da noite desta
quarta-feira, já contabilizava 60.710 das 70 mil firmas esperadas.
Diante das reações, a WWF solicitou uma reunião urgente com o monarca
para discutir o assunto e lhe transmitir as manifestações que recebeu e,
na ocasião, possivelmente pedir-lhe que se retire do cargo.
– Estamos esperando a reunião. Não
é uma questão que possamos responder agora, já que não tivemos a chance
de falar com o rei ainda – diz Soria.
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