segunda-feira, 5 de março de 2012

Entrevista: Olgamir Amancia Secretaria de Estado da Mulher

Foto Roberto Barroso
Entrevista: Olgamir Amancia Ferreira


    Titular da Secretaria da Mulher detalha a programação do Março Mundo Mulher e faz o balanço do primeiro ano à frente da pasta
    Evelin Campos e Isabel Freitas, da Agência Brasília


    “Qualificamos os Núcleos de Atendimento às Vítimas de Violência Doméstica e nos tornamos referência no Brasil”
    Olgamir Amancia Secretaria de Estado da Mulher

    O desenvolvimento de políticas públicas para as mulheres é um dos desafios da atual gestão do Governo do Distrito Federal. Para dar mais força às discussões sobre o tema, há mais de um ano foi criada a Secretaria da Mulher do DF. A pasta conseguiu, por meio de articulação com os demais órgãos do GDF, colocar a questão de gênero no centro dos debates. Neste mês em que é celebrado o Dia Internacional da Mulher, 8 de março, organiza eventos em todo o DF.
    
    À frente da Secretaria está a doutora em Políticas Públicas pela Universidade de Brasília (UnB), Olgamir Amancia Ferreira. Ela foi fundadora da União Brasileira de Mulheres, em 1988, onde começou sua militância nas questões de gênero e faz aniversário justamente no Dia Internacional da Mulher. Em entrevista à AGÊNCIA BRASÍLIA, Olgamir lista os avanços da pasta no primeiro ano e detalha os próximos desafios.
    
    Como serão as comemorações do Dia Internacional da Mulher no DF?

    Desde o ano passado, estamos trabalhando com a ideia do programa Março Mundo Mulher. Ou seja, as comemorações do Dia da Mulher vão além de 8 de março e se estenderão por todo o mês. A agenda do programa começou oficialmente em 29 de fevereiro, com o lançamento do Programa Mulheres na Construção, que pretende qualificar mulheres para a inserção no mercado de trabalho, e só termina em 31 de março, com a realização do Março Mundo Mulher em Ceilândia. Lá serão oferecidas diversas atrações e serviços voltados para o universo feminino. Toda a programação do evento estará disponível no sítio www.mulher.df.gov.br.
    
    A Secretaria da Mulher do DF completou um ano em janeiro. Qual o balanço que a senhora faz da gestão?

    Os avanços foram muitos. Só a criação da pasta representou um grande passo. Além disso, a articulação com outras secretarias garantiu que ampliássemos os atendimentos. No caso da Casa Abrigo, por exemplo, alugamos um novo espaço que atende mais de 50 pessoas, com área de lazer e terapia ocupacional. Qualificamos também os Núcleos de Atendimento às Vítimas de Violência Doméstica e nos tornamos referência no Brasil. Somos a única unidade da federação a dar atendimento às vítimas e aos agressores. A ideia foi do governador Agnelo Queiroz, e os resultados são positivos. É muito grande o número de agressores que mudaram sua visão sobre a violência e aprenderam a lidar com conflitos sem ter que resolvê-los na violência.
    
    Quais os próximos desafios?

    São muitos. Precisamos consolidar os centros de atendimentos à mulher e colocar em prática o programa de formação dos servidores públicos. A proposta é do governador Agnelo Queiroz, que quer fazer de Brasília a capital da civilidade, onde as pessoas se respeitam. Eu acredito que, para isso, teremos que dar o exemplo também no trato com as mulheres. Os funcionários do governo precisam compreender o papel que desempenham para garantir o direito da mulher.
    
    A Secretaria da Mulher está envolvida nas ações de erradicação do analfabetismo no DF. Como está o desenvolvimento do projeto?

    Nós acompanhamos o programa DF Alfabetizado desde o início. Sabemos que em toda a região existem mais de 60 mil pessoas não alfabetizadas, sendo 23 mil mulheres. Para atender este contingente, articulamos com a Secretaria de Educação do DF algumas diretrizes. Uma delas é criar turmas em horários compatíveis com as necessidades das mulheres. Muitas vezes, elas não podem sair de casa à noite, pois é o momento que ficam com o filho e o marido, por exemplo. Outro ponto fundamental é a inclusão de temas e termos do universo feminino na rotina da sala de aula, como mulher idosa, envelhecimento, câncer de mama, aleitamento e a drogadição, que é qualquer modalidade de vício químico. Este último tópico, por exemplo, é muito importante. Muitas mães se sentem culpadas quando os filhos se envolvem com drogas. No debate em sala de aula, elas poderão discutir esse assunto.
    
    Como está o funcionamento da Delegacia da Mulher? Há perspectivas de abrir novas unidades?

    Nós temos apenas uma delegacia especializada no atendimento à mulher, mas há previsão de uma nova unidade em Ceilândia. O espaço deve ser construído nos próximos meses. Trabalhamos com a ideia de ampliar o número de delegacias no DF e dos Centros de Referência de Atendimento às Mulheres. A proposta é construir pelo menos mais 11 centros para acolher a mulher, garantir sua autonomia, além de oferecer a ela atividades culturais, assistência social, psicológica e jurídica.
    
    Por que é tão importante oferecer atendimento psicológico às mulheres vítimas de agressão e aos agressores?

    O atendimento psicológico é muito importante. Por isso, temos vários desses profissionais no quadro da Secretaria. Eles ajudam as pessoas a compreender o que leva o homem a dominar sua companheira por meio da violência física, moral ou verbal. Além disso, há a tentativa de desconstruir a cultura da dominação de gênero. Como diz a escritora e intelectual francesa Simone de Beauvoir, "nós não nascemos mulheres, nos tornamos mulheres". Nós nascemos do sexo feminino, e a sociedade vai nos modelando segundo os padrões comportamentais.
    
    O trabalho da Secretaria da Mulher é resultado de uma forte articulação com outros órgãos do governo local, federal, entidades e representantes da sociedade civil. Como esse trabalho é feito?

    Nós temos uma articulação muito forte com várias secretarias, algumas em especial porque fazem parte dessa rede de atendimento da Rede Mulher, como as secretarias de Saúde, Trabalho, Desenvolvimento Social, de Educação. Além disso, temos parceria com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), por meio da Fundação de Assistência Judiciária (Faje), com o Ministério Público, principalmente com os nove Núcleos de Atendimento às Famílias Vítimas de Violência Doméstica, com a Federação de Mulheres, com a Universidade de Brasília (UnB) e, em breve, com outras instituições de ensino superior. Fechamos parcerias também com o Senac, Sebrae, com o laboratório Sabin e vários outros. Esse trabalho articulado é fundamental.
    
    Um importante projeto do Governo do DF com a Secretaria da Mulher é o mutirão de reconstrução mamária. Quantas mulheres se inscreveram e qual a importância dessa iniciativa?

    Pelo menos 120 mulheres se inscreveram para participar do mutirão de reconstrução mamária e 60 têm condições de fazer a cirurgia. O procedimento será feito pela nossa rede hospitalar, em parceria com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e a Secretaria de Saúde do DF. O trabalho da Secretaria da Mulher é fazer o atendimento antes e depois da cirurgia. Nós vivemos numa sociedade que enaltece a mama como um símbolo da feminilidade. A ausência dela compromete essa perspectiva. As estatísticas também mostram que muitas mulheres são abandonadas pelos maridos após a retirada de uma ou das duas mamas. Em função disso, a reconstrução mamária empodera essas mulheres. Com o mutirão, o governo vai firmar um compromisso com essas mulheres e durante todo o ano elas receberão atendimento.
    
    O Governo do DF vai lançar um novo canal para denúncias de violências domésticas. Como essas ferramentas têm mudado a vida das mulheres brasilienses?

    Vamos criar o 156, opção seis, que fortalecerá o atendimento já feito pelo 3222-2266 e pelo 180, que é o número nacional. O DF foi uma das Unidades Federadas que mais recebeu denúncias pelo número nacional, mas isso não quer dizer que a região seja a mais violenta. As mulheres é que têm criado coragem para denunciar. Firmaremos também uma parceria com a Polícia Civil. A cada 15 minutos, teremos os números atualizados dos casos que vão parar nas delegacias. Isso vai possibilitar o desenvolvimento de um trabalho preventivo nos locais onde há maior incidência dos crimes.

Fonte: Evelin Campos e Isabel Freitas, da Agência Brasília

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