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A frase é de Carlos Cachoeira, numa conversa interceptada pela
PF; nela, bicheiro cobra a fatura por ter colocado o tucano Perillo no
Palácio dos Esmeraldas em 2010; diálogo revela como doador de campanha
se apropria de um governo
27 de Abril de 2012 às 05:59
247 - Fecha-se o cerco contra o governador de Goiás, Marconi
Perillo. Em 2010, o bicheiro Carlos Cachoeira foi um dos principais
personagens da sua campanha. Doou recursos, montou parte da estrutura e
depois cobrou a fatura. Na disputa, contra o ex-governador Íris Rezende,
Cachoeira recrutou o espião Dadá e o jornalista Alexandre Oltramari,
ex-Veja. Cedeu recursos próprios e também da construtora Delta. E,
depois, cobrou seu pedaço do governo. "Quem lutou e pôs o Marconi lá
fomos nós", disse Cachoeira ao ex-presidente do Detran, Edivaldo
Cardoso, numa conversa interceptada pela PF.
Cardoso deixou o cargo justamente em função das ligações com
Cachoeira. Em Goiás, a Delta saiu praticamente do zero para contratos de
R$ 450 milhões. Cachoeira nomeava delegados e participava da indicação
até de alguns secretários. Marconi Perillo, que já admitiu a influência
isolada de Cachoeira em seu governo, tentou retomar a iniciativa e pediu
para ser investigado pelo produrador Roberto Gurgel.
A situação do governador de Goiás começa a se tornar insustentável.
Leia na matéria do Globo:
BRASÍLIA - Conversas gravadas pela Polícia Federal mostram que o
bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, cobrou do
ex-presidente do Detran de Goiás Edivaldo Cardoso a fatura pelo apoio à
eleição do governador Marconi Perillo (PSDB). No diálogo, o bicheiro e o
ex-auxiliar do governador discutem a partilha da verba publicitária do
Detran, segundo Edivaldo, no valor total de R$ 1,6 milhão. Cachoeira
lembra da participação que teve na campanha de Perillo e exige a maior
fatia do bolo.
— Quem lutou e pôs o Marconi lá fomos nós — diz Cachoeira.
A conversa foi interceptada pela Polícia Federal em 2 de março do ano
passado, logo no início do governo do tucano. Cachoeira descobriu que
um jornal de Anápolis, de oposição ao governador, receberia uma verba
mais expressiva que o jornal dele, que, segundo a Operação Monte Carlo,
está em nome de um laranja do bicheiro. Contrariado, Cachoeira diz que a
partilha não está correta e deve ser revisada.
"Aquele jornal foi contra o Marconi”, diz Cachoeira
Em um dos trechos, Cachoeira fala especificamente do Canal 5 de
Anápolis, contratado para transmitir as sessões da Câmara Municipal e
que tem como diretor Carlos Nogueira, o Butina, que ao GLOBO assegurou
ser o dono da emissora. O mesmo grupo é dono do jornal “Estado de
Goiás”. O contraventor vai direto ao ponto:
— O jornal “O Anápolis” vai ganhar do Detran? Aquele jornal foi
contra o Marconi o tempo inteiro. O Butina falou que viu (o documento)
na mão do cara (do governo) — contesta Cachoeira.
O ex-presidente do Detran nega a veracidade da informação:
— Não viu, não. Eu fechei isso ontem. Tinha televisões (e outros
jornais) — disse Edivaldo, antes de complementar, dizendo que deu
atenção especial ao jornal de Carlinhos.
— Eu pedi para incluir o seu (jornal) lá — disse Edivaldo.
A partir desse momento, em um diálogo de três minutos e quinze
segundos, o contraventor interpela o ex-dirigente do Detran sobre a
partilha de valores e compara a fatia abocanhada por concorrentes e
pelos veículos ligados ao grupo.
— O nosso tem que ser muito mais. Quem lutou e pôs o Marconi lá fomos nós! — diz Cachoeira.
Presidente do Detran foi demitido, após escândaloPressionado,
Edivaldo chega a concordar com Cachoeira que a verba aos jornais que
fazem oposição ao governo de Marconi Perillo “não se justifica”.
Cachoeira então volta a cobrar a suposta parceria com o governo goiano.
— Parceiro só para conversa, não tem jeito. Você tem que nos mostrar em números — conclui o contraventor.
Edivaldo foi demitido no começo de abril deste ano, após o surgimento
de outras gravações nas quais aparece em conversas com Cachoeira. O
tema da conversa era um possível encontro a ser agendado entre o
governador e Cachoeira.
Butina sustentou que ele é o dono do jornal “Estado de Goiás” e da
Canal 5. O advogado do governador Marconi Perillo, Antônio Carlos de
Almeida Castro, Kakay, informou que não comenta trechos pinçados e
descontextualizados do relatório da Operação Monte Carlo.